Toca o telefone. No ecrã aparece "Infantário".
O coração palpita sempre que me ligam de lá. Passa-me sempre pela ideia uma corrida para o hospital por algum deles ter partido um braço, uma perna, a cabeça... Nunca passou da febre, até agora (mas acho que o JL depressa há-de dar cabo das estatísticas).
Afinal era para dizer que tinha "rebentado um ouvido" ao rapaz. Sinceramente não me pareceu muito bem, porque para mim rebentar alguma coisa é realmente muito mau, pior quando é no nosso corpo, ainda mais quando é no corpo de um filho.
Na cabeça começa a logística: levá-lo à médica/ será que a Dra dá consultas esta tarde/ é melhor ir busca-lo já/ orientar (ou não) o trabalho que tenho à frente...
Depois de as coisas terem realmente ganho alguma ordem na cabeça fui sentindo chegar um sentimento de culpa. Como é que eu não me apercebi que ele estava com uma otite? Sou muito ignorante em ouvidos. Ao contrário, sou mestrada-doutorada-altamente formada em amigdalas. (A Lu nunca teve nenhuma otite, mas plantava amigdalites por onde passava.) Tosse, nariz congestionado, noites mal dormidas, falta de apetite, rabugice... todos os sinais juntos e eu não perecbi que ele tinha mais qualquer coisa.
Culpo-me a mim e aos dentes. Porque se eles já tivesse os 20 cá fora eu não poderia dizer que era algum a romper...
E agora para o compensar estou aqui com ele ao pé, a mimar tanto quanto consigo (a estragá-lo mesmo) e a tentar minimizar o aperto que fica no coração. E que eu não consigo evitar.
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